A violência cometida contra as diversas espécies animais no mundo contemporâneo, fruto de uma tradição de pensamento especista e, por outro lado, do modo de produção capitalista, impõe o constante avanço de reflexões acerca da histórica dualidade humano/animal, de conceitos como os de animalidade, pessoa e sujeito, bem como da supremacia do racionalismo no ocidente. Conforme definem Nocella II & all (2014), os Estudos Críticos Animais são “um campo radical e interdisciplinar ... engajado em uma política interseccional, de teoria para a ação, em solidariedade com movimentos que buscam abolir quaisquer sistemas de dominação”. Sua missão primordial é a contestação do especismo - termo cunhado em 1970 por Richard Ryder e cuja ideologia consiste em “justificar a dominação [humana] sobre outros animais e sua exploração econômica e mercadorização” - e o enfrentamento de crenças “que formam uma estrutura velada de violência e fazem com que as mais indescritíveis atrocidades pareçam uma parte aceitável do dia a dia” (Matsuoka e Sorenson, 2018). Trata-se de um campo de estudos que problematiza e age sobre as relações de poder entre animais humanos e não humanos e que tem como fim a libertação das espécies animais, inclusive da espécie humana. Ou seja, a opressão do homem pelo homem não é entendida, a partir da perspectiva que aqui se delineia, em termos de uma ruptura em relação a outras formas de opressão. Ao contrário, estuda-se a relação entre os diversos sistemas e níveis de opressão e violência que permeiam, ou mesmo estruturam, micro e macro universos, sem deixar de lado questões como a devastação do meio ambiente na atualidade, os malefícios da sociedade de consumo, a pobreza e a miséria humana. O papel essencial dos Estudos Críticos Animais e, portanto, deste Ciclo de Estudos, é trazer para o centro de tais discussões espécies animais negligenciadas e silenciadas por uma série de discursos ou práticas discursivas que fazem do animal humano foco único e incontestável. Nesse sentido, os Estudos Críticos Animais subvertem o conservadorismo, mas também discursos progressistas fundamentados no especismo. Por fim, como bem pontuaram Koleszar-Green e Matsuoka (2018), os Estudos Críticos Animais ultrapassam os muros da academia em seu "comprometimento com um ativismo transformador" em prol da justiça social transespécie. O Ciclo abre-se a propostas de diversas áreas do conhecimento, como a filosofia, os estudos literários, a antropologia, a sociologia, a história, a etologia, a biologia, a medicina veterinária, as artes em geral, a psicologia, e o direito. Além de estudos teóricos serão contemplados testemunhos de ativistas e expressões artísticas. Espera-se que esse diálogo construa não apenas novos saberes e reflexões, mas práticas que, efetivamente, contribuam para o movimento de libertação das espécies animais no planeta.